Crescimento do e-commerce em meio à pandemia do coronavírus

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Desde o início de março, a crise do coronavírus representa uma ameaça sem precedentes para o setor de varejo em todo o mundo. Na maioria dos países, apenas varejistas que vendem alimentos, medicamentos e outros itens essenciais podem fazê-lo em lojas físicas.
 

Com os efeitos da pandemia de coronavírus ainda impactando toda a economia global, pode ser difícil imaginar o retorno do varejo ao normal um dia. De alguma forma, isso pareceria praticamente inimaginável da realidade pré-crise. Mas as mudanças no comportamento do consumidor serão duradouras.
 

Além dos muitos varejistas tradicionais que observam o tráfego de pedestres e as vendas caírem para quase zero, a mudança mais profunda no comportamento do consumidor está ocorrendo no comércio eletrônico – e essa provavelmente terá uma das consequências mais duradouras.
 

De acordo com as previsões mais recentes relativas à expansão do e-commerce (antes do COVID-19), a estimativa inicial das vendas de comércio eletrônico no Brasil era que aumentasse cerca de 18%, o equivalente a R$ 106 bilhões somente este ano. 
 

O comércio eletrônico é o setor que mais cresce e espera-se que esses números sejam revisados ​​para cima nos próximos meses em decorrências das mudanças provocadas pela pandemia de coronavírus.
 

O comércio eletrônico de compras já vinha de um grande impulso, mesmo antes da população se distanciar socialmente 

De fato, a chama já estava acesa, e alta do e-commerce já vinha em uma curva acentuada de crescimentos nos últimos anos, mas a crise do coronavírus claramente despejou gasolina no fogo. 
 

Nos primeiros 15 dias de março de 2020, as vendas globais de comércio eletrônico no Brasil aumentaram 40% em comparação com o mesmo período em 2019, de acordo com a pesquisa realizada pela Statista Research Department.
 

O número de novos compradores on-line também aumentou durante o mês. Enquanto isso, as vendas on-line de produtos relacionados à saúde cresceram mais de 120% no país. 
 

O comércio eletrônico está associado a novos hábitos de consumo – e em tempos de Covid-19 isso não será diferente

Durante anos, o comércio eletrônico exibiu uma função clara no varejo, em especial na temporada de festas. Os padrões de gastos com comércio eletrônico nunca voltaram a estar onde estavam antes. Em vez disso, eles conseguiram a maioria dos ganhos anuais e estabeleceram uma linha de base nova e mais alta para o consumo do varejo.
 

A razão para isso foi que, a cada novo ciclo, os consumidores estavam se adaptando e ficando mais sofisticados em seus padrões de compra on-line em meio às mudanças da economia e aos novos hábitos de consumo. 
 

O que começou como, simplesmente, fazer uma compra específica de um item acabou progredindo para compras em novas categorias, de itens caros e via celular. 
 

Sempre que esses comportamentos se consolidam para um novo conjunto de consumidores, eles mudam permanentemente os hábitos de consumo de grande parte deles.
 

O novo comportamento consumidor

Esse aumento dramático do comércio eletrônico chega a um ponto crucial na evolução do e-commerce
 

Historicamente, o comércio eletrônico de mercearias não atraiu uma grande base de consumidores, em grande parte porque muitas pessoas visitam lojas locais para comprar itens, como carne e peixe fresco, frutas, legumes e pão. 
 

Mais da metade dos usuários de internet na Alemanha entre 18 e 69 anos, por exemplo, disseram que nunca comprariam mantimentos online, de acordo com uma pesquisa realizada em setembro de 2019 pela ibi research e pela Digital Commerce Research Network.
 

Porém, o comércio eletrônico, agora, está tendo um momento de forte consolidação. Milhões de compradores on-line iniciantes estão se materializando, e outros pouco frequentes estão fazendo isso semanalmente.
 

Obviamente, esses compradores vão retornar às lojas. Mas se as famílias que anteriormente usavam o comércio eletrônico em apenas uma em cada dez viagens ao supermercado mudassem permanentemente para uma em cada cinco, o impacto a longo prazo será profundo.
 

Ao analisar, por exemplo, o total de vendas no varejo nos EUA nas categorias de alimentos e bebidas, elas passam de US$ 1 trilhão. A penetração dessa categoria no comércio eletrônico passou de 3,2% para 5,2% nos últimos dois anos, isso significa cerca de US$ 20 bilhões a mais em movimento on-line. 
 

Imagine o impacto que a movimentação desses dólares gera ao saírem das cadeias de supermercados tradicionais para os cofres de empresas como a Amazon. Será um enorme corte em negócio que tradicionalmente já apresentam uma margem reduzida de lucros.
 

No Brasil, o e-commerce está em pleno crescimento

Um estudo feito pela Konduto, empresa brasileira de soluções de combate a fraudes, aponta que seis setores do e-commerce tiveram aumento significativo nesse período de quarentena em virtude do novo coronavírus.
 

  • Brinquedos: +643,05%

  • Supermercados: +448,09%

  • Artigos esportivos: +187,90%

  • Farmácias: + 74,70%

  • Games online: + 58,46%

  • Entregas: + 55,66%

O fato é que os consumidores mudaram seu comportamento de consumo para compras on-line para evitar locais públicos, seguindo as recomendações definidas pelo governo brasileiro e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 
 

O comércio eletrônico está se fortalecendo  porque as lojas estão fechando e as pessoas estão em casa ficando mais tempo na internet buscando atender suas necessidades básicas de consumo.
 

Desafios para o comércio eletrônico durante a pandemia de coronavírus

Como na maioria dos cenários, com oportunidades surgem desafios. Observar com atenção pode ajudar o comércio eletrônico a atenuar a recessão esperada. Alguns exemplos de possíveis desafios são:
 

  • Questões na cadeia de suprimentos – escassez de produtos e demanda potencialmente em declínio do consumidor também podem diminuir o crescimento do comércio eletrônico se a economia vacilar ou entrar em recessão.

  • Criando maneiras convenientes para as pessoas fazerem compras com coleta, entrega e entrega no mesmo dia.

  • O aumento de pedidos on-line pressiona as empresas a cumpri-los. Em alguns casos, essa pressão está aumentando demais para as empresas e ameaça prejudicar suas operações de comércio eletrônico.
     

Outro desafio que os varejistas eletrônicos enfrentam são os grandes players, a exemplo da Amazon, que têm a intenção clara de aproveitar o fechamento de muitas lojas físicas para aumentar sua participação no mercado online já dominante. 
 

Para fazer isso, a Amazon tem reforçado fazer pedidos de todos os tipos de mercadorias, e não apenas desinfetantes para as mãos e alvejantes, em uma tentativa de atrair vendas de consumidores incapazes ou não de ir a lojas físicas.
 

O coronavírus afetará a temporada de festas e grandes promoções?

Apesar do cenário de incertezas em virtude da evolução do Covid-19, os varejistas online podem ter outras vantagens durante os períodos de festas e grandes promoções, a exemplo da Black Friday. 
 

Se o coronavírus seguir a trajetória de contaminação e isolamento social, fazendo com que restrições ainda sejam impostas pelo governo, isso pode fazer com que os consumidores evitem as lojas físicas durante mais algum tempo. 
 

Os consumidores, provavelmente, devem se perguntar: “Devo ir ao shopping se houver o risco de contaminação?’”. Em vez de ir às lojas físicas, muitos compradores podem optar por comprar seus presentes em lojas virtuais que conseguiram se consolidar nesse momento de crise.
 

Enquanto isso, as vendas de supermercado online provavelmente “explodirão”, especialmente para vendedores online de artigos relacionados às principais festas do ano, como Natal e Ano Novo. A única questão que fica em dúvida é: eles vão obter o estoque necessário para a demanda?
 

O que os vendedores de comércio eletrônico podem esperar durante a pandemia

Atualmente, existem muitas incógnitas: até que ponto o coronavírus se espalhará, como o mercado responderá e qual o impacto geral da pandemia em todo o mundo. Embora ninguém saiba realmente o que vai acontecer, essas previsões darão aos vendedores uma ideia do que esperar.
 

Mudanças na demanda e receita

Quase metade dos varejistas espera alguma desaceleração econômica devido à pandemia.
 

No entanto, já é possível apontar o crescimento das compras online no período de crise: o número de pessoas que aumentou o comportamento de compras online subiu de 19% para 34%. Enquanto isso, o das que diminuíram compras em lojas físicas subiu de 32% para 46%, de acordo com estudo feito pela Kantar, empresa especializada em dados, insights e consultoria.
 

Seguindo a tendência natural do e-commerce, o mesmo estudo mostra que 72% dos consumidores compram online para economizar tempo e 71% acreditam que o e-commerce é mais conveniente do que ir em lojas físicas. Muitos brasileiros usaram o período de pandemia para fazer suas primeiras compras online:
 

  • 17% alimentos e bebidas

  • 15% remédios sem prescrição médica

  • 12% cosméticos e produtos de cuidado pessoal

  • 12% serviços diversos

  • 8% roupas e acessórios

  • 7% eletrônicos
     

Isso pode refletir um aumento repentino na demanda, à medida que mais consumidores recorrem às compras online.
 

Conversões em itens de entrega mais longa

Com a popularidade do Amazon Prime, com seu transporte gratuito e tempo de entrega reduzido, muitos consumidores modernos tem dado preferência por uma entrega expressa para produtos que possam chegar mais rapidamente. 
 

Porém, a alta demanda nos estoques tem gerado atrasos nas remessas e tornando difícil o cumprimento das promessas de entrega rápida, até mesmo para os gigantes do comércio eletrônico, a exemplo da Amazon.
 

Por ser um problema comum a todas as lojas virtuais atualmente, os consumidores apresentam uma tendência maior de comprar os produtos de que precisam online, mesmo que tenham janelas de entrega mais longas, para evitar ir a lojas físicas, cujos estoques podem ser baixos ou até inexistentes.
 

Escassez de estoque

Se você esteve em um supermercado recentemente, sem dúvida, encontrou prateleiras vazias. Com mais pessoas comprando alimentos e suprimentos para suas necessidades básicas, vários setores estão lidando com a falta de estoques.
 

Quarenta e quatro por cento dos vendedores pesquisados ​​dizem esperar atrasos na produção e 40% esperam falta de estoque ao longo de 2020, de acordo com a pesquisa publicada pela Digital Commerce 360, empresa especializada em mídia e pesquisa em varejo eletrônico.
 

Por que temos a previsão de uma escassez tão grande e por que o sistema não pode responder? Porque temos uma tempestade perfeita se formando a frente. A maioria das empresas, quando lidam com a alta demanda estão prevendo o crescimento com base em histórico de vendas anteriores, porém temos um evento que eles nunca haviam previsto.
 

Desafios relacionados a cadeia de suprimentos

Muitos dos desafios que os varejistas online enfrentam atualmente estão relacionados à cadeia de suprimentos com os mercados estão respondendo de várias maneiras.
 

Os gigantes do varejo, por exemplo, têm experimentado uma pressão maciça em sua cadeia de suprimentos, resultando em atrasos nas remessas, falhas técnicas e falta de mão de obra especializada. Isso agora, está impedindo o envio de produtos para seus armazéns de distribuição.
 

Os varejistas devem adotar como resultado da pandemia a comunicação direta com a cadeia de suprimentos e o planejamento de contingências como suas principais ações. 
 

O que podemos aprender com pandemias passadas

Essa não é a primeira vez que esse tipo de interrupção atinge os varejistas e seus clientes. Muito antes da pandemia de Coronavírus, o vírus da SARS, em 2003, foi um ponto de virada para o comércio eletrônico. 
 

  • Em 2003, os pioneiros chineses Alibaba e JD.com enfrentaram e superaram o desafio. Isso pode ser usado como inspiração para varejistas online agora.

  • A JD.com recorreu à venda de eletrônicos em fóruns na Internet e em grupos de bate-papo com QQ. Mais tarde, a maior parte dos recursos foi dedicada ao negócio online. Isso garantiu o crescimento e permitiu que a marca se tornasse a maior varejista online de produtos eletrônicos da China.

  • Os negócios de comércio eletrônico B2B da Alibaba prosperaram depois que empresários estrangeiros cancelaram viagens à China. Foi assim que o registro em sua plataforma começou. A experiência levou em parte ao nascimento de Taobao, que ultrapassou o eBay e se tornou o maior mercado C2C da China.
     

O setor pode ter sido relativamente primitivo naquela época, mas o surto fez muitos varejistas recorrerem às plataformas online, que não foram forçadas a fechar.
 

O Coronavírus criou um novo desafio para muitos negócios online. Observamos crescentes preocupações com pessoas e empresas expostas a riscos financeiros. Mas, ainda assim, alguns negócios parecem bem posicionados para se beneficiar das mudanças no comportamento do consumidor causadas pela pandemia.

 

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